sexta-feira, 18 de maio de 2012

Todo tempo é bom (Alberto Villas)


Passei a minha infância inteira ouvindo uma ladainha do meu pai.
- O meu tempo é que era bom!
Tudo na época do meu pai parecia ser bom, uma maravilha. Os carrinhos de madeira que ele mesmo fabricava, os biscoitinhos de nata que a mãe dele fazia, o programa Aeiourca, o César de Alencar no rádio, as viagens nas asas da Panair, os bailes no Cassino da Pampulha, o velho e bom Studebaker, o Tesouro da Juventude, a folha seca do Didi e até mesmo a Coca-Cola que vinha num vidro chamado tamanho família.
Definitivamente o meu pai não gostava da minha época e achava que o mundo se não tinha acabado, estava perdido. Ele abria a porta do meu quarto para pedir um som mais baixo e falava sério.
- Esse John Lennon pra conversar comigo tem de primeiro cortar o cabelo, fazer a barba e tomar um bom banho!
O meu pai não gostava de nada, absolutamente nada da minha época. Ficava horrorizado ao ver os meus carrinhos de plástico, a minha calça americana, o meu cabelo como a juba de um leão, eu de botinha sem meia e sem espelho para me pentear. Ele não gostava do Caetano cantando “É proibido proibir”, do Jorge Ben dizendo “mó num pá tropi’’ e muito menos do Ronnie Von jogando o cabelo para trás e cantando “meu bem…”
O meu pai era um cara que não amava os Beatles nem os Rolling Stones. Ficava furioso quando eu colocava um Jimi Hendrix na vitrola solando “Spanish Castle Magic” ou até mesmo um Simon e Garfunkel cantando “The Sound of Silence”. Ele odiava o Grateful Dead, The Who, The Doors, The Monkees, o Deep Purple , o Black Sabbath. Não gostava dos Mamas & Papas, do Peter, do Paul e tampouco da Mary.
O meu pai gostava mesmo era do vozeirão do Nelson Gonçalves, da elegância do Mario Reis, da bossa do Lucio Alves, da Ângela Maria, da Emilinha, do violão do Dilermando Reis, dos forrós e dos xaxados do Luiz Gonzaga.

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